Imagem: Divulgação JCSP
Após liminar, quais os próximos capítulos da 'novela' de desapropriação do Jockey Club?

Após liminar, quais os próximos capítulos da 'novela' de desapropriação do Jockey Club?

Cyro Fiuza

Menos de uma semana após a Câmara Municipal votar em segunda instância uma lei que proíbe corridas de cavalo com apostas na capital e o prefeito Ricardo Nunes sancionar o projeto à toque de Caixa, o Jockey Club de São Paulo conseguiu uma liminar no Tribunal de Justiça - na terça-feira, dia 2 de julho - suspendendo as ações orquestradas pelo legislativo e pelo executivo paulista.

A decisão da Justiça foi bem fundamentada, com extensa análise da ação e de seu contexto. Prejuízos ao turfe, aos sócios do clube, aos trabalhadores envolvidos na atividade, foram alguns dos bons argumentos. Outro, fundamental, foi a lembrança de que as corridas são regidas por lei federal, e não cabe ao município legislar sobre elas.




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Com a decisão, o Jockey Club de São Paulo venceu uma batalha, mas não a guerra. O mérito da ação ainda será julgado pelo TJ-SP, enquanto a Prefeitura voltará à carga alegando que o clube deve IPTU e que por isso deve ser desapropriado. Quais os próximos passos que o turfe paulista terá pela frente e o que o JCSP pode fazer para contornar a mais grave crise de sua história?

À ação de proibir as corridas de cavalo na capital paulista - projeto direcionado ao JCSP - veio se juntar uma outra, aprovada também em segunda instância no ano passado, que desapropriou o terreno do Hipódromo Paulistano com o intuito de transformá-lo em um parque público.

Na verdade, desde que aprovou a votação da Câmara Municipal, a Prefeitura não sabe como implementar um parque no prado. Há três anos, a secretaria do Verde e do Meio Ambiente manifestou-se no sentido de que as regiões de Cidade Jardim e Morumbi não necessitavam de mais um equipamento como esse, já que eram bem servidas nesse aspecto: Parque Alfredo Volpi, Parque Villa-Lobos, Parque do Povo, além de várias praças como a imensa Vinicius de Moraes, em frente ao Palácio dos Bandeirantes.

Por obra dos vereadores, a começar do autor do projeto, Xexéu Tripoli, seu chefe na Câmara Milton Leite, mais a complacência do prefeito Ricardo Nunes - que em ano eleitoral evitará dizer um "não" aos ocupantes do Palácio 9 de Julho - o PL voltou com toda a força e, de repente, um parque passou a ser necessário na região.

Especulação imobiliária, fantasma que assombra a região


A cobertura da imprensa nos últimos dias mostrou porém que não é apenas no parque que estariam interessados os poderes legislativo e executivo. Uma forte especulação imobiliária estaria avançando, com facilidades e penduricalhos colocados no mais recente Plano Diretor aprovado pela vereança. Em editorial na semana passada, o jornal Estado de S. Paulo considerou acertada a decisão do TJ-SP e não deixou de citar sobre o perigo da especulação que ameaça o arborizado bairro de Cidade Jardim.



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Nesse cenário, o que caberia à diretoria do Jockey Club de São Paulo fazer, além de monitorar a questão da liminar na Justiça? Quem deu a primeira dica foi o próprio Ricardo Nunes, que sugeriu adotar um serviço de equoterapia quando abrir o novo parque. Não sabe ele que essa iniciativa já foi feita algumas vezes no hipódromo, e que poderia voltar sem a necessidade de acabar com as corridas.

Assim como poderiam voltar os shows musicais, as feiras e as exposições. Uma série de eventos que o Jockey Club começou a perder a partir da última década, e que inexplicavelmente não foram retomados pelas diretorias mais recentes. Numa sequência de iniciativas que empregavam milhares de pessoas, geravam renda e pagamento de tributos, o clube perdeu o Festival Lollapalooza para o autódromo de Interlagos, a Casa Cor para espaços itinerantes, e o QBazar, que ocupou outra área fixa na Avenida Cidade Jardim.

Mas até aqui estamos falando de eventos comerciais, que poderiam reforçar o caixa do Jockey Club a ponto de propor uma renegociação do IPTU devido junto à Prefeitura. O que dizer de iniciativas de cunho social, como a própria equoterapia citada pelo prefeito?

Para começar, o Jockey Club poderia turbinar a hoje tímida atividade de restauro do patrimônio do hipódromo. Nos últimos três anos, o clube vem promovendo um interessante curso gratuito para jovens interessados em restauração. Mas são poucas vagas e o trabalho não causa a repercussão que mereceria na cidade.

Ainda na linha da restauração, que envolve a utilização de madeira, ferro, tecido e pintura, o Jockey Club poderia montar cursos profissionalizantes, junto à Prefeitura e a iniciativa privada, aproveitando o grande espaço de sua marcenaria e serralheria, atualmente sub-utilizadas.

No seu Departamento de Assistência Veterinária, de onde já saíram grandes profissionais que hoje atuam em todo o Brasil, a residência médica deveria aumentar suas vagas, contribuindo assim para o desenvolvimento da medicina-veterinária, profissão que é tão importante para a equideocultura e o agronegócio brasileiro.

Na Escola de Preparação para Jóqueis, também seriam oferecidas mais vagas para a formação de novos pilotos. Hoje o Brasil é representado mundialmente por grandes profissionais que saíram da "escolinha" e que montam em Cidade Jardim, em outros Estados e alguns deles no exterior.

Projetos comerciais, sociais e relações públicas


E por falar em educação, o Jockey Club teve uma escola de primeiro nível entre fins dos anos de 1950 e início de 1980. Alí estudavam filhos de funcionários, de jóqueis e de treinadores. Não é difícil encontrar alunos que participaram desse projeto e lembram com orgulho do tempo passado por lá.



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Por que não retomar esse projeto, em conjunto com o poder público e privado, abrindo também vagas para jovens carentes da região? O prédio da antiga escola ainda está lá, mas se os seus novos proprietários não estiverem dispostos a participar desse projeto social, a diretoria do clube decerto encontrará instalações dentro do hipódromo para tal.

Por último, uma vez tirado do papel alguns desses projetos, a diretoria do JCSP deveria começar a fazer relações públicas de suas atividades. Porque fechar-se dentro de seus imensos muros é dar munição aos detratores do turfe ou para vereadores que, obcecados pela reeleição em outubro, são capazes de proporem projetos tão absurdos como proibir corridas de cavalo ou multar quem dá de comer para moradores de rua.