A vida acontece num ritual diário naquele pequeno apartamento onde mora Hirayama (Koji Yakusho). Acorda com o nascer do sol, enrola seu tatame e vai buscar água para regar suas plantas que estão em potes perto da janela.
O carinho com que executa essa tarefa nos diz já algo acerca daquele homem maduro. Ele é meticuloso e gosta de sua rotina.
Quando abre a porta da rua, o sol ilumina seu rosto e ele boceja, rosto descansado.
Vai até a máquina e compra um copo de café. Depois, em sua pequena van azul dirige nas ruas de Tóquio em direção ao seu trabalho, ao som de sua sofisticada coleção de cassetes antigos.
Ele é empregado da companhia que limpa os banheiros públicos de Tóquio. Diga-se de passagem, tais banheiros são verdadeiras obras de arte da arquitetura contemporânea, assinados por gente como Tadao Ando, Toyo Ito e Kenzo Kuna.
Com empenho, vemos ele trabalhar em vários desses banheiros, sempre discreto e diligente.
Na hora do almoço, procura o parque e senta-se à sombra com o seu sanduiche.
Encantado com as árvores, ele fotografa com uma máquina de filme as copas verdes acima. Seu rosto irradia paz e felicidade.
Findo o dia vai a um banho público e à noite lê um livro.
Para a nossa cultura ocidental de mil e uma tarefas diárias, sempre apressados, o filme parece muito distante e mesmo monótono. Mas aí reside o encanto que quase todos perdemos. A vida é agora, cada momento é único, diz o famoso diretor alemão Wim Wenders. Se não for vivido com atenção, perde-se para sempre.
Não sabemos quase nada sobre Hirayama mas o principal é sua doçura saudável e a felicidade que ele encontra no quotidiano. Até o fim do filme outras pessoas vão interagir com ele e vamos nos contagiando por seu modo de viver.
Claro que não existem só dias perfeitos. Mas eles são preciosos para, inclusive, suportarmos os outros não tão felizes assim. Pense nisso.
"Dias Perfeitos" foi indicado na lista dos filmes internacionais do Oscar. E o ator Koji Yakusho ganhou o premio de melhor ator em Cannes.