Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo | Imagem: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo
Marçal captava e-mails para grupo que aplicava fraudes e tinha conhecimento do esquema, aponta decisão judicial

Marçal captava e-mails para grupo que aplicava fraudes e tinha conhecimento do esquema, aponta decisão judicial

Candidato a prefeito de SP chegou a ser condenado, mas pena foi extinta. Em depoimento, ele disse desconhecer estrutura


Por Sarah Teófilo e Paolla Serra

A investigação da Polícia Federal que provocou a condenação do candidato a prefeito de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, aponta que ele integrava um grupo de pessoas que disparava e-mails com assuntos chamativos como a promessa de adesão a programas sociais do governo e conteúdos pornográficos para atrair vítimas e roubar senhas bancárias. O ex-coach chegou a ficar preso temporariamente por dois dias no curso do inquérito.

Avisos falsos de inadimplência ou de irregularidades no CPF e na declaração de Imposto de Renda também eram usados como estratégia para a prática de crimes. Marçal, de acordo com a PF, tinha conhecimento da prática e atuava selecionando os e-mails que seriam alvos do grupo.

Marçal chegou a ser condenado a quatro anos e cinco meses de prisão por furto qualificado e associação criminosa por ter sido apontado como integrante de uma quadrilha que roubava valores de contas bancárias por meio da instalação de vírus em computadores, mas a pena foi extinta por prescrição do processo. O caso foi investigado pela Polícia Federal e gerou uma operação em agosto de 2005, quatro meses depois de o hoje candidato completar 18 anos.

Marçal nega


Procurado via assessoria, o ex-coach não se manifestou. Quando questionado sobre o caso, ele disse em depoimento que apenas atuava na manutenção de computadores e que não sabia da atuação criminosa.

Na decisão que condenou Marçal, o magistrado diz que, "apesar da negativa de participação nos fatos delituosos, as próprias declarações de Pablo Henrique (Marçal) na polícia são discrepantes com a tese de inocência defendida" pelo ex-coach. O juiz acrescenta que os "conhecimentos" do candidato em "informática" possibilitavam a ele "claramente compreender a perfeita dimensão do que ocorria, ainda mais com os programas maliciosos existentes nos computadores".


Trecho da decisão judicial - Foto: Reprodução

O juiz afirma que, ao mesmo tempo que dizia desconhecer os golpes, Marçal caiu em contradição num depoimento ao afirmar que o homem acusado de liderar o esquema disse a ele que um outro integrante do grupo faria "programas invasores que simulariam páginas de instituições bancárias para com isso capturar dados de correntistas"

Em depoimento à PF, Pablo reiterou que não tinha conhecimento do golpe.

- Eu cheguei a perguntar para ele (líder do grupo) para que que servia. Ele falou que era para um trabalho de publicidade que ele fazia para um amigo dele, um médico. Aí ele falava assim que não tinha... não tinha problema, que ele vendia era produto médico ou anunciava trem de médico. Eu não sabia a finalidade que era a lista. Para mim não tinha nada de ilegal. (...) Ele é pastor, né? Conheço ele de muitos anos, achava ele uma pessoa idônea, não tinha motivo de desconfiança dele - disse Marçal à época.

Na sentença, o juiz acrescenta que não é "razoável capturar tantos e-mails para fazer simplesmente a publicidade de um médico". Um agente da PF que prestou depoimento também afirmou que Marçal sabia das atividades ilícitas e que usava um computador "fornecido pelo grupo" para a finalidade.

Questionado em um dos interrogatórios em novembro de 2005, o acusado de liderar o esquema disse que Marçal não sabia para qual finalidade seriam usadas as listas de e-mail captadas, mas confirmou que o candidato atuava na captação das contas e não apenas na manutenção dos equipamentos.

Pelos serviços, o candidato a prefeito recebeu a promessa de remuneração de R$ 400, mas acabou recebendo entre R$ 300 e R$ 350 mensais, pouco mais que um salário mínimo. Ao condená-lo, o juiz afirma que Marçal "dava suporte aos furtos perpetrados", mas tinha uma atuação "de menor importância e secundária".

Páginas falsas de bancos


De acordo com a investigação, Marçal e outros envolvidos no esquema incluíam links maliciosos nas mensagens, induzindo as vítimas a instalarem programas capazes de capturar informações inseridas pelos usuários dos computadores infectados - prática chamada de "phishing".

Como parte do método, o grupo criava páginas falsas na internet de instituições bancárias. Quando os usuários inseriam os dados bancários, as informações também eram capturadas pelos softwares maliciosos. Os dados eram arquivados em bancos de dados que depois eram usados pela quadrilha para acessar as contas das vítimas por meio do site bancário verdadeiro e realizar transferências de valores para outras contas de correntistas previamente aliciados.

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/08/20/marcal-captava-e-mails-para-grupo-que-aplicava-fraudes-e-tinha-conhecimento-do-esquema-aponta-decisao-judicial.ghtml