A realidade falsificada pelas mentiras repetidas nas redes

A realidade falsificada pelas mentiras repetidas nas redes

"No cenário da pós-verdade, tudo se torna possível. A verdade objetiva perde seu valor em favor de narrativas que mobilizam as massas. A capacidade de convencer multidões passa a ser mais relevante do que a aderência aos fatos. Neste ambiente, a realidade é maleável, sujeita à manipulação por aqueles que dominam as ferramentas da comunicação em massa."

Por João Antonio da Silva Filho

No contexto das redes sociais, a repetição emerge como um poderoso construtor de realidade. Quando uma ideia, seja ela verdadeira ou falsa, é repetida incessantemente, ela adquire um status de veracidade aos olhos de muitos. Isso ocorre porque o cérebro humano tende a confundir familiaridade com verdade, um fenômeno explorado com habilidade pelos algoritmos e pelos influenciadores digitais. A capacidade de repetição massiva e constante de uma mensagem transforma-a em um novo "real", independentemente de sua veracidade original.

A proliferação das redes sociais gerou um ambiente propício para a disseminação de mentiras e falsidades, moldando percepções e polarizando a sociedade. A polarização, por sua vez, reforça essas mentiras, criando bolhas informacionais onde verdades alternativas se estabelecem e se solidificam. A sociedade, então, se fragmenta em realidades paralelas, cada uma moldada por suas próprias narrativas repetidas.

No cenário da pós-verdade, tudo se torna possível. A verdade objetiva perde seu valor em favor de narrativas que mobilizam as massas. A capacidade de convencer multidões passa a ser mais relevante do que a aderência aos fatos. Neste ambiente, a realidade é maleável, sujeita à manipulação por aqueles que dominam as ferramentas da comunicação em massa.

As redes sociais, enquanto principal fonte de informação para muitos, não incentivam o consumo de conteúdos densos e profundos. Pelo contrário, a simplicidade e a superficialidade são incentivadas, uma vez que conteúdos complexos exigem tempo e reflexão, luxos que as plataformas digitais não proporcionam. A informação, portanto, é simplificada ao extremo, esvaziada de nuances e complexidade.

Essa simplificação do complexo torna-se, paradoxalmente, um instrumento de conhecimento, porém um conhecimento distorcido. A redução do complexo ao simplório cria uma falsa sensação de entendimento, uma ilusão de que se conhece algo que, na realidade, foi apenas despojado de suas camadas de significado. O conhecimento genuíno, que exige esforço e profundidade, é substituído por uma compreensão rasa, mas amplamente disseminada.

Conclui-se, então, que a realidade contemporânea, em grande parte, é construída pela repetição. No ambiente da pós-verdade, a habilidade de moldar percepções é mais valorizada do que o compromisso com a verdade. A sociedade, imersa em um mar de simplificações, perde a capacidade de discernir o verdadeiro do falso, vivendo em uma realidade fragmentada e manipulável.

A MANIPULAÇÃO DOS ALGORITMOS PELOS EXPERTS EM REDES SOCIAS


Os algoritmos das redes sociais são projetados para maximizar o engajamento dos usuários, priorizando conteúdos que geram reações intensas, como a indignação ou a excitação. Esse modo de operação manipula a percepção dos usuários ao apresentar uma visão distorcida da realidade, onde as informações mais controversas ou emocionais são amplificadas e disseminadas com maior frequência. Como resultado, os algoritmos criam um ciclo vicioso onde narrativas polarizadoras e, muitas vezes, falsas, são repetidamente expostas ao usuário, reforçando suas crenças e isolando-o em bolhas informacionais.

Além disso, a forma como os algoritmos operam facilita a disseminação de desinformação, pois prioriza o alcance e a popularidade do conteúdo sobre sua veracidade. A repetição contínua de mensagens enganosas, selecionadas por algoritmos que favorecem o que é mais compartilhado ou curtido, solidifica essas falsidades na mente do público. Assim, as redes sociais se tornam ferramentas poderosas de manipulação, moldando o entendimento coletivo e a percepção da realidade com base em interesses comerciais ou ideológicos, ao invés de em fatos objetivos.



JOÃO ANTONIO DA SILVA FILHO é mestre em filosofia do direito e doutor em direito público, conselheiro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo e vice presidente da ATRICON - Associação dos Membros dos Tribunais do Brasil.

Traço de União
https://joaoantonio837.wordpress.com/2024/08/20/a-realidade-falsifica-pelas-mentiras-repetidas-nas-redes/