Toda noite mãe filho não se esqueciam do último ritual. Os dois olhavam debaixo da cama dele. Será que o monstro estava lá? Não estava e Edgar (Ivan Morris Howe) podia dormir.
Mas a verdade é que esse menino de nove anos tinha um problema. Muito sensível, Edgard se afligia com as brigas dos pais depois que ele ia dormir e mesmo quando estava acordado.
Eram os anos 80 e Nova York, uma cidade violenta, com gente estranha pelas ruas, drogados e instáveis, em meio a um ambiente de pobreza, racismo e homofobia. A AIDS fazia centenas de vítimas. Edgard, mesmo muito criança, percebia o clima pesado da casa dele. E também o da cidade.
Ia a pé com o pai todos os dias para a escola. Mas não estavam juntos. O pai, focado em outras coisas, não prestava atenção no filho, que seguia atrás. Até o dia em que Edgard não aparece na escola. Ninguém sabia onde ele estava. O pai o tinha perdido de vista e nem percebera.
A minissérie de seis episódios, criada por Abe Morgan, aproveita do sumiço da criança para aprofundar a personalidade do pai, Vincent, interpretado com intensidade por Benedict Cumberbatch. Seu personagem tinha um programa infantil de televisão com bonecos engraçados manejados por artistas.
Mas o desaparecimento do filho vai mexer ainda mais com o pai, perturbado desde criança. E piorara consideravelmente porque se tornara um alcoólatra.
Edgard era uma criança superdotada. Seus desenhos originais, onde se escondia de seus problemas, encantavam a todos. Mas o pequeno pedia era a atenção amorosa do pai de quem tinha medo. Mergulhado em sua agitação e falta de foco afetivo, o pai surtava quase que o tempo todo. E foi o filho que deu corpo e imagem a esses surtos, num desenho que mostrava com quem o pai falava em voz alta. "Eric" era enorme, azul, peludo, tinha chifres e dentes enormes.
A polícia vai ser chamada e o detetive preto, gay e inteligente (o ótimo McKaley Belcher III) vai se ocupar do caso do menino branco desaparecido pois já se ocupava com outro, envolvendo um menino preto, caso que o delegado considerava fechado.
Os subterrâneos da mente e da cidade têm papel relevante nisso tudo. E os atores excelentes e a história bem escrita prendem nossa atenção. Vale a pena maratonar.
(O trailer está no meu blog: www.eleonorarosset.com.br)