Marco Damiani
Profissional gabaritado no jornalismo esportivo, o especialista em turfe Marcos Rizzon chegou antes ao disco com seu texto sobre os prodígios alcançados na gestão do empresário Márcio Toledo à frente do Jockey Club de São Paulo (2005-2011), e a respeito da debacle promovida em seguida na gestão de Eduardo da Rocha Azevedo, que ele chama de ERA.
As linhas de texto traçadas por Rizzon correspondem a uma vitória de ponta a ponta. Para fazer um placê na escolta ao craque, gostaria de acrescentar algumas memórias daquele período de reestruturação e reerguimento do Jockey Club de São Paulo durante a presidência de Márcio Toledo.
Márcio Toledo e o jóquei Jorge Ricardo, em 2005
O que vem de primeira é uma lista de realizações: uma das piscinas mais lindas de São Paulo, reivindicação quase secular dos sócios, foi construída em frente ao retão dos 1.000 metros. Só por ela, o título do clube já valeria o investimento. Mas houve ainda, naquele espaço, a reforma da sauna e fisioterapia do clube e grandes melhoras externas, em paisagismo.
Não há como não lembrar que foi a gestão Marcio Toledo que fez o padoque, para a apreciação dos cavalos escalados para as corridas. Como em hipódromos europeus e norte-americanos, foi instalado diante das arquibancadas sociais. E que a arquibancada destinada aos profissionais - jóqueis e treinadores - foi toda ela reformada durante a mesma gestão.
A sauna destinada aos jóqueis também foi modernizada na administração Toledo, da mesma forma que houve grande reforma nas instalações do conceituado hospital veterinário existente dentro do Jockey.
Lembrança puxa lembrança, não há como não registrar a compra, pelo Jockey, de um magnífico e completo sistema de 'fotochart' austríaco, idêntico ao utilizado nas Olímpiadas de Pequim, para aferir os resultados das corridas de todas as distâncias. Hoje o futebol tem o 'var'. Naquele tempo, o Jockey já tinha o seu próprio, antes de todas as outras modalidades esportivas.
Equipamento de fotochart
E, falando de equipamentos de última geração, o Departamento de Controle Antidopagem do clube recebeu por doação um aparelho moderníssimo de detecção de doping nos cavalos de corridas. Semelhante ao utilizado em Jogos Olímpicos para as modalidades equestres que lá se disputam a cada quatro anos.
A sede em Cidade Jardim foi internamente toda modernizada, inclusive com a compra de elegantes mesas 'zero bala' de snooker - outra iniciativa que só valorizou o título de sócio do Jockey.
Mesas de snooker no 2º andar
Corridas como o Grande Prêmio São Paulo passaram a ter, durante quatro de suas edições, transmissão ao vivo pela Rede Globo, em horário nobre de domingo, num gol de placa de comunicação. Tivesse prosseguido, resultaria em grande popularização do turfe no país, o que renovaria o seu público e criaria uma linha de centenas, milhares de novos empregos diretos e indiretos.
Com 500 funcionários àquela altura, o Jockey pagava salários e cumpria todos os direitos trabalhistas em dia, além do que fazia grandes festas para os profissionais e seus familiares, notadamente no Natal, com distribuição de prêmios a adultos e crianças.
Nos salões nobres, o aluguel para festas tinha seu valor elevado à medida em que o Jockey renascia - o interesse pelos ambientes do clube se renovava para festas de aniversário e de casamento. E, na sede da rua Boa Vista, cresciam igualmente os eventos, mais de cunho empresarial.
Os prêmios para os proprietários dos cavalos melhores colocados nas corridas passaram a ser pagos em dia, na semana seguinte à realização das provas de fim de semana, incentivando uma nova geração de compradores de cavalos de corridas - e movimentando toda a cadeia produtiva em torno do Puro Sangue Inglês.
E há que se lembrar também de outras provas clássicas, como o internacional GP Latino-Americano, resgatado pela gestão de Márcio Toledo após anos de ausência no turfe paulista. Foi corrido em 2009, com a dotação de US$ 250 mil!! Em 2009 e 2010, o GP Derby Paulista contou com a parceria da Shadwell Farm, do sheik Handam Al Maktoum, de Dubai, com a dotação de US$ 50 mil para cada ano (dotações essas impensáveis na atual realidade do turfe brasileiro).
Por falar em Puro Sangue, nas gestões de Marcio Toledo eu, pessoalmente, pude criar e realizar, com o apoio da TV Jockey, de ótimos profissionais, o programa "Puro Sangue". Nele, eu dava voz e imagem aos profissionais de todos os setores do clube, contribuindo em mais este sentido para a popularização do turfe.
Festividades do Grande Prêmio São Paulo em 2010
Era muito legal fazer esse programa, conhecer as histórias e divulgá-las. Num deles, nos bastidores dos estúdios, o jóquei hoje mundialmente famoso João Moreira explicou para os nossos telespectadores como, metro a metro, venceu o importante Grande Prêmio Carlos Pellegrini, um dos mais emblemáticos do nosso continente, corrido na Argentina.
O mundo político acorria ao Jockey naquele tempo, em meio a homenagens e celebrações que o clube promovia. Lá, durante uma comemoração da revista IstoÉ Dinheiro, do saudoso editor e turfista Domingo Alzugaray, teve como 'key speaker' ninguém menos que o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Noutra, o centro da mesa foi ocupado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E assim corriam aqueles dias.
No campo da administração, além de preservar intocado (e melhorar) o patrimônio do clube, a gestão Marcio Toledo travou uma justa batalha jurídica com a Prefeitura de São Paulo em razão de um contencioso fiscal. Na gestão ERA, até onde sei, essa boa briga foi abandonada, o patrimônio do clube (a famosa Chácara do Jockey) foi entregue pela dívida que se discutia legalmente. Quase ao mesmo tempo, a sede da Boa Vista foi vendida e tudo foi se apagando.
Agora, dentro do Plano Diretor, a notícia é a de o magnífico ambiente das corridas terá o destino de um parque público, sem qualquer menção ao que vai acontecer com a atividade turfística, a sua cadeia produtiva, as tradições que o esporte carrega. Parece que vai ser um grande 'f...-se' a tudo isso.
Clube aberto à população o Jockey sempre foi e dinamizou-se na gestão Marcio Toledo. Todo o acesso era - e ainda é - gratuito. Nunca houve barrados às arquibancadas ou áreas comuns. Mas agora, com a história sendo reescrita, a narrativa vai ser outra etc e tal. Triste destino, um pecado contra a nossa cidade ter essa história, tão linda, tão mal contada pelos que sempre quiseram derrotar o Jockey, o Clube de São Paulo.