Filmes sobre chefs de cozinha há muitos. Mas cada um vai escolher o conflito central que vai fazer a diferença. Aqui em "Fome de Sucesso" existe uma crítica social bem colocada.
Estamos na Tailândia, lugar de turismo exótico. Mas não vamos seguir por essa trilha.
A comida é algo essencial à vida. Infelizmente, no mundo de hoje, milhões de pessoas comem mal, outras passam fome e sofrem.
No entanto, pessoas como o chef Paul (Nopachai Chaiyanam) não se importam com pessoas mas trabalham com comida para ganhar a admiração dos ricos que podem contratá-lo. Seu narcisismo é alimentado pela "fome" que ele provoca nas pessoas que estão mais interessadas em exibir "status" do que em comer bem. O chef quer ser uma lenda.
Há no filme uma cena dele criança, roubando da geladeira um potinho de caviar, proibido para ele, filho da empregada. E o potinho cai no chão e quebra. A patroa fica brava com a mãe dele que chora. Ele, nada arrependido, pega do chão os grãos cinzentos e prova. E não gosta. E fica pensando. De onde vem a fama desse caviar? Talvez esse episódio vai levá-lo a querer ser valioso e caro. Mais do que o caviar que irá enfeitar a comida assinada por ele.
No bairro pobre da cidade, uma bela mocinha, Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) cozinha para a vizinhança, no bar da família dela. Ela é talentosa e amável. Cozinha bem. Preocupa-se com o que faz e gosta quando apreciam sua comida.
Logo ela é convidada para ser aprendiz na cozinha do chef Paul. Ela hesita mas a família precisa de dinheiro.
E ela vai viver um pesadelo. Em tudo diferente do chef, ela nunca consegue satisfazê-lo. Com um sadismo ardiloso, ele maltrata todos naquela cozinha. O ambiente é de medo, o chef irascível e arrogante.
Aoy não aguenta e sai, convidada para cozinhar em um restaurante da moda. É logo descoberta pelos ávidos por novidade.
Mas ela vai ter que mudar de valores para continuar a fazer sucesso. Sua imagem vai contar mais do que a cozinha dela, avisa o empresário que a contratou.
Será que é isso que ela quer?
Esse filme tailandês surpreende pela fotografia, direção de arte e atores. Seu foco no social mostra a desigualdade do país. Pessoas morando na rua e milionários fúteis em festas gastronômicas, onde a comida, que tanto faz falta na rua, torna-se um espetáculo.
"- Quem não tem fome sempre quer mais" diz o chef para justificar sua cozinha teatral desprovida de respeito e do sentimento de que é a alimentação que preserva a vida.
(O trailer está no meu blog www.eleonorarosset.com.br )