Mariana Sanches
O empresário brasileiro Joesley Batista, um dos controladores da JBS S.A., gigante global do processamento de carne, circulou discretamente pelo Congresso dos Estados Unidos durante várias horas ontem.
Entre os parlamentares visitados por Joesley estava a republicana da Flórida Maria Elvira Salazar, uma das mais influentes no movimento trumpista MAGA ("Make America Great Again"). Salazar confirmou à coluna a conversa com o empresário brasileiro.
Ela é uma das impulsionadoras da agenda do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do comentarista político Paulo Figueiredo por punições ao Brasil junto ao governo de Donald Trump para levar o país a aprovar uma anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, em julgamento por tentativa de golpe de Estado. Até então, Salazar não tinha se encontrado com delegações de parlamentares e empresários brasileiros que estiveram recentemente no Capitólio em busca de negociações.
Desde 6 de agosto estão em vigor as tarifas de 50% do republicano contra produtos brasileiros. Segundo apurou a coluna, a missão primordial de Joesley era conversar com congressistas republicanos para tentar abrir negociação e reduzir as taxas. Não há, atualmente, mesa de negociação entre os governos dos dois países. A JBS não comentou a visita.
Embora a Casa Branca tenha criado uma lista de quase 700 itens isentos da taxa, a carne brasileira não foi incluída no benefício. Os EUA são o segundo maior comprador de proteína bovina do Brasil, responsável por mais de 10% do faturamento de exportação do setor.
Com um recorde de venda ao mercado americano até agosto deste ano, os exportadores de carne viram uma queda de quase 50% nas remessas entre agosto e julho deste ano - e a expectativa é que as vendas recuem ainda mais.
Mas os interesses de Joesley não se restringem a isso. Com um portfólio de negócios grande nos EUA - que incluiu a incorporação da processadora Swift, a JBS anunciou em meados do mês passado a compra de uma unidade de produção de alimentos processados em Ankeny, Iowa, que será modernizada com investimentos de US$ 100 milhões. Mas. em recente entrevista à Reuters, o CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, disse que os investimentos do grupo vão muito além disso, com aportes previstos da ordem dos US$ 800 milhões.
Esse tipo de cifra é música aos ouvidos de Trump, que tem cobrado investimentos de empresas no país para rever taxas e avançar os interesses de grupos empresariais. Joesley conhece o jogo político no país. A Pilgrim's Pride, subsidiária da JBS e segunda maior processadora de aves dos EUA, doou US$ 5 milhões ao Comitê de Posse do Presidente Trump em janeiro de 2025 - e com isso se tornou a maior doadora do evento, superando as americanas Meta e Amazon (US$ 1 milhão em doação cada).
Ontem, Joesley estava acompanhado de outro empresário brasileiro, Carlos Sanchez, da farmacêutica EMS. Procurada pela coluna, a EMS afirmou que não comentaria o assunto.
Joesley e Sanchez participaram junto a João Camargo, do grupo empresarial Esfera Brasil, de uma conversa com o ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional de Trump, Mauricio Claver-Carone, e com o deputado republicano da Flórida Byron Donalds. Estavam presentes também o empresário brasileiro Lírio Parisotto e José Félix, vice-presidente da consultoria Ballard Partners.
"Nosso objetivo é claro: estreitar os laços históricos entre Brasil e Estados Unidos, reduzir tarifas e retomar um diálogo amistoso que, ao longo de mais de 200 anos, sempre marcou a parceria entre nossas nações", afirmou Camargo em uma postagem nas redes sociais. Procurados, nem ele, nem a Esfera responderam à coluna.
Camargo se encontrou ainda com a própria Salazar, com a senadora republicana da Flórida Ashley Moody, e os deputados republicanos da Flórida Carlos Gimenez e Mario Diaz-Balart. Todos são políticos com trânsito junto à Casa Branca. Em todas as visitas, ele pediu ajuda para a remoção das tarifas sobre o Brasil. A atuação de empresários tem sido até agora o canal mais eficaz de busca de alívio à sobretaxa.
A coluna apurou que o grupo de Camargo, Sanchez e Joesley não pediu apoio da Embaixada do Brasil em Washington na missão. Ao contrário do que fizeram a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o grupo empresarial LIDE, do ex-governador de São Paulo João Dória, que deram publicidade à imprensa das recentes visitas de suas delegações a Washington, Joesley e os demais tentaram passar ao largo da atenção pública.
Uol
https://noticias.uol.com.br/colunas/mariana-sanches/2025/09/10/com-carne-sob-tarifa-joesley-vai-ao-congresso-dos-eua-contra-taxa-de-trump.htm