Manifestação do 7 de Setembro organizada pela esquerda na Praça da Republica, centro de São Paulo - Foto: Divulgação/CUT |
Em resposta a manifestações bolsonaristas, esquerda se reúne em São Paulo e no Rio com discurso contra anistia

Em resposta a manifestações bolsonaristas, esquerda se reúne em São Paulo e no Rio com discurso contra anistia

Ato na Praça da República reuniu 8,8 mil pessoas, segundo análise feita pelo Monitor do debate político, do Cebrap; mobilização teve falas contra a anistia e defesa da soberania nacional


Por Matheus de Souza e Felipe Grinberg - São Paulo e Rio

Centrais sindicais e lideranças de esquerda se reuniram na Praça da República, em São Paulo, em ato em defesa da soberania nacional. A movimentação tenta responder às manifestações bolsonaristas neste 7 de Setembro, feriado da Independência, e contou com a presença do ministro do governo Lula Luiz Marinho (Trabalho), além do presidente nacional do PT, Edinho Silva (PT), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e a vereadora Amanda Paschoal (PSOL).

O ato na capital paulista reuniu 8,8 mil pessoas, segundo análise feita pelo "Monitor do debate político", do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) - coordenado por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, da Universidade de São Paulo (USP) -, em parceria com a ONG More in Common. A margem de erro do levantamento, feito com base em imagens aéreas e auxílio de inteligência artificial, é de 1,1 mil pessoas para mais ou menos.

Caravanas do interior do Estado marcaram presença, assim como manifestantes com bandeiras do Brasil e vestindo verde e amarelo, numa tentativa de resgatar os símbolos nacionais, majoritariamente utilizados pela direita. Com a manhã nublada e uma temperatura de 18 °C, o ato ocupou parcialmente a Praça da República e a avenida Ipiranga, no centro.

Apesar do mote do ato ser a soberania nacional, discurso que ganhou força após o governo americano anunciar um tarifaço de 50% imposto a produtos brasileiros, bandeiras e cartazes se colocavam principalmente contra a anistia dos investigados pela tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro.

Cartaz em alusão ao ex-presidente Jair Bolsonaro em manifestção da esquerda na Praça da República, centro de São Paulo - Foto: Matheus de Sousa
Cartaz em alusão ao ex-presidente Jair Bolsonaro em manifestção da esquerda na Praça da República, centro de São Paulo - Foto: Matheus de Sousa

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) descartaram a possibilidade de os projetos de anistia avançarem no Congresso. Enquanto o ministro avaliou que o projeto é inconstitucional, Boulos classificou o texto como uma "bravata" que, mesmo se avançar na Câmara, cairá.

- Nossa Constituição é clara: crime contra a pátria não cabe nem anistia, nem indulto. O Congresso Nacional tem que assumir sua responsabilidade. Se votar questões inconstitucionais, elas serão vetadas, e o Supremo terá de avaliar - disse Marinho.

Boulos destacou a importância de a esquerda retomar o 7 de Setembro após a "cooptação" da data pelos adversários.

- A esquerda vir às ruas no 7 de Setembro é uma expressão de quem defende o Brasil. Hoje, quem defende o Brasil é quem está ao lado do nosso povo contra as agressões dos Estados Unidos, e não quem está lambendo as botas de Trump - disse o deputado.

O deputado Guilherme Boulos (PSol) em ato do 7 de Setembro na Praça da República, em São Paulo - Foto: Matheus de Sousa
O deputado Guilherme Boulos (PSol) em ato do 7 de Setembro na Praça da República, em São Paulo - Foto: Matheus de Sousa

Sobre a tramitação da anistia, o deputado afirmou que, mesmo supondo que todos votem a favor do projeto, a maioria na Câmara não garantiria sua aprovação no Senado.

- Bolsonaro subia em um caminhão e ficava xingando todo mundo; agora, fica implorando por anistia, com Tarcísio cumprindo esse papel lamentável de ir a Brasília para tentar ser o candidato do Bolsonaro à Presidência - afirmou Boulos. Sobre o julgamento do ex-presidente Bolsonaro, o deputado disse que sua expectativa é pela prisão, o que será comemorado por ele com um "churrasco".

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, ressaltou a importância de punir os responsáveis pela tentativa de golpe, dizendo confiar no "bom senso dos parlamentares" com relação ao tema.

- Não podemos banalizar nem normalizar aquilo que é grave, nós tivemos um resultado eleitoral. Aqueles que perderam as eleições organizaram uma tentativa de golpe, e o pior, organizaram o assassinato do presidente vitorioso, do vice. Se nós banalizarmos isso, nós teremos aberto o precedente que toda vez que alguém perder as eleições, se sinta no direito de organizar golpe e assassinar os vitoriosos - disse.

Já o presidente estadual do PT, deputado federal Kiko Celeguim, aproveitou para criticar diretamente o governador paulista, Tarcísio de Freitas, por sua defesa da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

- Essa é uma manifestação para alertar a população sobre o projeto de anistia, uma anistia não interessa o País, ingressa um grupo pequeno. Como pode o governador do Estado mais rico do País parar de trabalho no meio de dia para tentar articular essa pauta que confronta a Constituição do País.

O deputado estadual Antônio Donato (PT) e a vereadora Silvia da bancada feminista (PSOL) também deram o tom do evento. Donato criticou Tarcísio e Bolsonaro classificando ambos como "traidores da pátria" enquanto Silvia chamou os opositores de "capachos do Trump".

O ato acontece a poucos quilômetros de outra movimentação, o protesto de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, planejado para acontecer no início da tarde. Neste, um pedido de anistia irrestrita que beneficiaria Bolsonaro - em prisão domiciliar - deve ser a principal bandeira.

De acordo com lideranças de esquerda, para além da soberania nacional, também está na pauta do ato na Praça da República a taxação dos super-ricos, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e a redução da jornada de trabalho sem redução salarial. As pautas não são novidade e permeiam atos de esquerda desde o início do ano.


Organizado pela Frente Povo Sem Medo, que reúne o MST e o MTST, e por movimentos sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a expectativa é realizar atos semelhantes em ao menos 36 cidades em 23 estados e no Distrito Federal.

Ato no Rio


No Rio, o protesto aconteceu na Rua Uruguaina, no Centro Do Rio, próximo do tradicional desfile do 7 de setembro na Avenida Presidente Vargas. O grupo levou faixas com palavras de ordem contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra o projeto de anistiar os presos pelo 8 de janeiro.

Em protesto no Rio, manifestantes levaram faixas com palavras de ordem contra o projeto de anistiar os presos pelo 8 de janeiro - Foto: Felipe Grinberg
Em protesto no Rio, manifestantes levaram faixas com palavras de ordem contra o projeto de anistiar os presos pelo 8 de janeiro - Foto: Felipe Grinberg

No carro de som, os manifestantes gritaram palavras de ordem sobre a soberania nacional e ainda cobraram um posicionamento do governo federal contra as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump e pediram a implantação de reciprocidade de impostos aos produtos norte-americanos. A além de temas discutidos no Congresso, como o fim da escala 6x1.

Participaram do ato os deputados federais Jandira Feghali (Pc do B), Benedita da Silva (PT), Pastor Henrique Vieira (PSOL), Reimont (PT) e Chico Alencar (PSOL).

Ato em Brasília


Em Brasília, manifestantes da esquerda se reuniram na Praça Zumbi dos Palmares para participar do Grito dos Excluídos. O ato foi marcado por discursos contrários à anistia de envolvidos na trama golpista e nos ataques do 8 de janeiro. Durante a mobiização, estiveram presentes o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) e o pré-candidato a governador do Distrito Federal Ricardo Cappelli (PSB).

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/09/07/em-resposta-a-manifestacoes-bolsonaristas-esquerda-se-reune-em-sao-paulo-com-discurso-contra-anistia.ghtml