Acho que os próximos 30 anos serão melhores que os anteriores. Minha justificativa é que vamos ter mais atenção com a luta de classes, mas não esta que o PT enxerga com sua única referência, mas outra, menos falada, a luta entre jovens e velhos.
Se você acha que não existe essa luta, você não entendeu o que é a dívida pública. É simples. Pense como David Ricardo, um dos fundadores da economia: a dívida de hoje é o imposto de amanhã.
Agora reflita: quem você acha que vai pagar a dívida pública (de R$ 9 trilhões)?
Os velhos de hoje são como gastadores compulsivos que não podem esperar. Sua impaciência resulta em endividamento: gastar agora o dinheiro que não existe, significa sacar sobre o futuro.
Quando chegar a hora de pagar, os velhos serão os jovens de agora, talvez tentados a pedalar as dívidas para os jovens de mais adiante. Esse círculo vicioso será a luta que vai dominar a agenda dos próximos 30 anos, como a inflação foi a dos últimos 50.
Acho que vamos navegar bem nesse assunto, em razão dos aprendizados da luta contra a hiperinflação. Nossos jovens ficaram mais adultos. Por ora, todavia, a dívida vai crescendo, e os jovens não parecem se importar.
O fato é que os jovens são os que fumam, usam drogas e tomam riscos absurdos, tudo em comparação com gente mais experiente.
Não é racional, como explicava um velho professor meu, na faculdade de economia. Ao fumar - dizia ele, olhando para nós, fumantes perplexos (todos fumavam nos anos 1980), vocês estão abreviando a fase mais rentável de sua vida laboral - pois vão se aposentar, e morrer, mais cedo -, literalmente jogando dinheiro fora. Vocês não sabem fazer conta?
Eu acho que vamos aprender, especialmente no contexto de uma reforma no Orçamento. É difícil convencer os jovens a abandonar o "vape", assim como fazer avançar a responsabilidade fiscal em país tão ansioso.
Mas as chances são boas para os próximos 30 anos.
Já temos um incentivo natural à responsabilidade fiscal na taxa de juros, que é o preço para antecipar as coisas. É uma descoberta recente: o juro alto eleva o custo da afobação, entendida como o consumo presente em detrimento do futuro. O juro é exatamente esse "detrimento", a relação de troca entre o hoje e o amanhã.
Isso nós aprendemos, ou estamos perto de aprender: o juro alto no Brasil reflete a desarrumação fiscal, que esse governo mais se empenha em ocultar que combater.
Mas este é só o primeiro de seis governos que vamos ter nos próximos 30 anos.
O Globo
https://oglobo.globo.com/economia/gustavo-franco/coluna/2025/08/luta-de-classes.ghtml