Meados dos anos 2000. A administração "Novo Jockey", de Márcio Toledo, fechava parceria com a Rede Globo e trazia celebridades, desportistas e políticos para o Hipódromo Paulistano. Na prática, já era um Parque aberto e com muitas atrações para a população da cidade de São Paulo
A Câmara Municipal de São Paulo promoveu uma Audiência Pública da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente na última quinta-feira, dia 21, no Palácio Anchieta, no centro da capital. Na pauta, a discussão sobre a desapropriação do Hipódromo Paulistano, do Jockey Club de São Paulo.
João Jorge e Fábio Riva, autores do Projeto de Lei que pede a desapropriação e criação de um parque municipal onde funciona, desde 1941, o hipódromo, argumentaram que a cidade precisa de mais espaços públicos, que o Jockey já não cumpre sua função com o número de corridas realizadas, empregos criados e principalmente o valor da dívida de IPTU e ISS, que a Prefeitura alega ser em torno de R$ 800 milhões.
Na audiência, o conselheiro do Jockey Club, Marconi Perillo, disse que o Jockey Club é uma área aberta à população, e lançou uma proposta: aprimorar o uso dessa espaço tornando-a um parque privado de interesse público. O ex-governador de Goiás defendeu uma solução que passe por uma parceria público-privada, para que o Jockey Club possa retomar seu planejamento e tenha condições de pagar a dívida do IPTU. O conselheiro também apresentou experiências de parques privados de interesse público montados junto a hipódromos ao redor do mundo, como Hong Kong, França, Dubai e Austrália.

Transportando os fatos para meados dos anos 2000, o clube passou por uma experiência única, batizada de "Novo Jockey", que a princípio uniu a grande maioria dos sócios mas depois gerou dissidências, à medida que processos ineditos eram adotados pela diretoria comandada pelo empresário Márcio Toledo.
Foram duas gestões seguidas (2005 a 2011), que quebraram paradigmas e geraram inovações nas áreas mais importantes tanto das corridas quanto da administração do clube, que passou a ser fortemente focada em marketing. O Jockey voltou a ser frequentado por artistas, desportistas e políticos, para os quais uma parcela mais retrógrada dos associados olhava com desconfiança.
Para resumir, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu concorrente nas eleições de 2006, o governador de SP Geraldo Alckmin, fizeram seus principais encontros de campanha no Hipódromo Paulistano. Hoje, estão juntos como presidente e vice do Brasil. Em seus salões, o Jockey também recebeu Mário Covas, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, Marta Suplicy, Dilma Rousseff, Heloísa Helena, Dário Berger e Paulo Maluf, sócio há muitos anos do clube.
Era o ano de 2010. Enquanto fazia as entregas das taças aos responsáveis pela vitória do cavalo Sal Grosso no Grande Prêmio São Paulo Rede Globo, o presidente Márcio Toledo fez um relato que representou a síntese da sua administração, ao lado Marta Suplicy e dos padrinhos da festa, a apresentadora Hebe Camargo e os cantores Chitãozinho & Xororó:
"Quarto ano com a Rede Globo, uma parceria muito forte, um compromisso com a cidade de São Paulo. Quero pedir para esse guerreiro, esse homem que conseguiu, ao meu lado e de tantas outras pessoas de dentro e fora do Jockey, transformar o clube no verdadeiro Parque da Cidade: Antonio Zimmerle, entregue a taça ao treinador de Sal Grosso", disse Toledo.
"Obrigado pela confiança, Márcio. Obrigado pelo carinho e pela oportunidade de transformar esse espaço cada vez mais no espaço da cidade. Um Parque da Cidade, aberto a toda à comunidade, aberto à família. Em nome da TV Globo, eu te agradeço pelo carinho e respeito que você tem pelas nossas Organizações", respondeu o então diretor de programação da Rede Globo.
Ao abordar a audiência pública e aquela fase de meados dos anos 2000, resta avaliar o que se pode tirar de ensinamento desses dois passados para buscar uma solução para o Jockey Club de São Paulo. O recente, que luta para contornar uma situação delicada mas gera dúvidas quanto à sobrevivência do clube? Ou o mais distante, que promovia a integração da entidade junto aos poderes públicos, mas que parece ter sido esquecido pelos seus sócios e dirigentes?