SABOR Delícias da Louis Vuitton em Osaka: como a madeleine de Proust |
Para comer com os olhos, por Valéria França

Para comer com os olhos, por Valéria França

Luxuosas grifes internacionais investem em restaurantes de chefs renomados para rejuvenescer os negócios e tentar expandi-los em tempo de crise

VALÉRIA FRANÇA

OS NOVOS TEMPOS não têm feito bem para as grifes de luxo. A geração Z, de 20 e tantos anos, tem especial apreço pela simplicidade, até prova em contrário. Cresce a busca por brechós e itens de segunda mão. As guerras mexem com o câmbio das moedas e impõem restrições às importações e exportações de produtos. Resultado: cerca de 50 milhões de consumidores deixaram de comprar artigos de grifes como Louis Vuitton, Gucci, Dior, Chanel, Burberry e Ralph Lau-ren em 2024, segundo levantamento da consultoria ameri-cana Bain & Company. O faturamento ainda é vigoroso, o equivalente a 9,4 trilhões de reais no ano passado, embora tenha havido queda nos últimos doze meses. O que fazer, então, para não perder o viço?



Um dos caminhos, em tendência global, é incorporar às marcas experiências de alta gastronomia, de cardápios feno-menais e cafés refinados. É um modo de abrir canais de co-municação e reforçar as marcas, especialmente entre os mais jovens, naquilo que elas têm de duradouro: a lembrança da qualidade, do charme, do bem viver, que mal não faz. É co-mo se, na busca de não morrerem na praia, fizessem emanar o cheirinho agradável da madeleine de Marcel Proust embe-bida no chá, na imagem de Em Busca do Tempo Perdido.
Turma da Fut

Há inaugurações com os monogramas das etiquetas nas principais capitais da moda, como Paris e Nova York, além de sucursais em países asiáticos, com uma piscadela para outras praças no México e no Brasil, inclusive. Em Osaka, no Japão, a Louis Vuitton oferece as delicias do Le Café V no topo de uma moderníssima loja-conceito, com permanentes filas de espera. Há endereços de mesmo tom da LV em Nova York e Bangcoc, com destaque para um croque-monsieur com trufas negras do chef Christophe Bellanca, prato de dei-xar Proust envergonhado. O Ralph's Coffee, da Ralph Lau-ren, é claro, se espalha pelos continentes, com visibilidade no recém-inaugurado espaço no shopping CentralWorld, colosso na região requintada de Bangcoc. A Dior, que não poderia perder o trem, abriu há dois anos um restaurante no primeiro andar da lendária loja parisiense, na elegante Ave-nue Montaigne. E dá-lhe os prazeres da sopa La Colle Noire - referência ao nome da propriedade comprada pelo funda-dor da marca em 1951, que também inspira uma linha de perfume ou do ovo à Christian Dior.

CAFÉ Uma das lojas de rede da Ralph Lauren: em todo o mundo

Trata-se, enfim, de criar vínculos pelo estômago, como quem come com os olhos. Funciona. "O paladar não pode ser falsificado", brinca João Braga, professor de moda da Faap. No Brasil, a onda desembarcou, temporariamente, na Tif-fany do Shopping Iguatemi, com o Blue Box Café. A pedida: o Breakfast at Tiffany's de onze itens, estrelado pela massa de mil-folhas com uvas-passas, o ovo poché e... madeleines proustianas, para lembrar de um jeito de ser e viver.

Revista Veja